Exercendo o direito literário, de me fazer fazendo (ainda que pouco), portanto, quaisquer opiniões, críticas, sugestões e quiçá elogios serão bem vindos, mas não quer dizer que mudarei algo.

domingo, 16 de maio de 2010

Sala Vazia (de Idéias)

A mínima diferença entre uma folha em branco e uma sala vazia está nos contornos e dimensões. Ambas, em sentido, são iguais. Mas o porquê da explicação já está além das linhas da folha, ou das paredes da sala...

Em uma sala vazia, ele já habitava a um bom tempo, tentando escrever algo que falhasse ao constante enrolar de palavras à que estava submetido. Já ali se havia a algum tempo que bem podia ser de poucas horas, mas já se estendia comparável aos intermináveis sons provenientes dos ponteiros do relógio, diante da imensidão do vazio de idéias. O recinto, mesmo que morado, estava, ao passo daquele tempo, vazio de espírito ou utilidade, tendo em vista que não inspirava mais que o gotejar dos referidos ponteiros.

Foi quando, ao mirar a brancura das palavras não escritas, colocou-se como intocável terceira pessoa.

Um súbito retumbar de palavras acometeu o teclado morto e, em palavras não menos pausadas, se fez o escrito. Segue escrito, fruto de um longo tempo de aridez:

A mínima diferença entre...

domingo, 21 de março de 2010

E lá fora, como não se pode descrever..

Todo moderno, de terno novo, é subalterno a um amor que julgou eterno...
Esse que te espera na hora certa, não desperta, nem completa. Completa o que tem de completar, e entrega a quem tem que entregar os teus velhos olhos lindos.
Até inventa palavras pra falar de amor, algumas só me falam da dor e materializam a matéria que nada dá.
"Cintilante ela sorria naquele instante e eu em mim sentia irritante, confabulas de desejos que coçavam o céu da parte entranha das estranhas vontades."


Com toda a paciência abaixei ao seu rubor, 
escolhi o seu amor e elegi o meu temor. 
Esperei, calculei, cantei e fiz agrado. 
Descobri, decidi, interpretei e chorei um fado. 

Mais uma vez só fica a história deste, com aquele, esse e todos os outros sentimentos que só se sente quando mente e desmente o coração contente.

sábado, 13 de março de 2010

do leitor

Eles ficam só esperando que você ofereça uma patifenta leitura. Alguns estão tão desesperados que lêem até aquelas propagandas de cursos de idiomas que nós recebemos na rua. Não, leitores descartáveis! Incomode-os até pedirem que pare. 
Cair no complexo mundo dos antiquados sinônimos esquecidos.
Se alguém tem algo contra a minha decisão, fale agora e passe por mais amolador que eu. 

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Volatilidade das falas e dos estados de espírito...
Dois indigentes encontram-se na rua:

- Oi, Amásia!
- Sim. Oi! Como vai a vida?
- coexistindo-se!
- Então que vá.
- Por todas as derrotas, que delas se tira algo mais probatório!
- O quê?
- Não me diga que vá! Pergunte o porquê.
- Mas não me interessa!
- Então por que questiona?
- Para desfazer-me a fama.
- Qual?
- De deseducada
- Então deverias ter mostrado mais interesse.
- Qual?
- No porquê!
- Então está bem. Vou cobiçar descobrir o porquê.
- E eu vou apetecer sanar essa vontade?
- Por que não haveria?
- Ora, estás a fazer pauta de tuas vontades? É simples. Nem sempre se pode eleger o que nos vão desvendar.
- Então por que me repreende por não te questionar?
- És tu que estas a me admoestar.
- De que maneira?
- Dizendo-me que vá!
- Então que não vá.
- Mas se não for, estarei parado. E se for, estarei indo com algo pendente.
- Que posso eu então preferir?
- Que te dispõe a me amparar,por exemplo.
- Que poderia eu fazer se não sei do que se trata.
- Aí teria ciência de tal!
- Então me disponho.
- Assim poderás saber.
- O quê?
- Que te tenho muito amor.
- Então por que ficou a me exprobrar tanto?
- Pare que não me ames menos.
- Se fores, já conseguiste.

Aí se beijaram.
Não entenderam bulhufas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

et...

Ela era muito bonita, com suas curvas, e ele não parava de olha-la. Quando todos andavam de um lado para outro na rua, como se nada mais fosse tão importante, a outra ficava ali parada com sua cara de ''não acredito'' fitando-a. Assim se passou quase um século, e nada. Os deuses e/ou o destino não haviam presenteado aquele casal com a maior sorte da carne.
Carne, aliás, não poderia ser o problema, já que ambos eram de pedra como qualquer estátua que se preze. O problema então seria a falta dela? A falta de mortalidade? Para eles não! Podiam viver tranqüilamente com a idéia de perdurar eternamente. O que realmente embaraçava era o fado de terem sido colocados de maneira a não se tocarem: um de cada lado da praça.
Talvez nem precisavam se tocar, de repente uma maior proximidade, metade da metade da metade da metade, já seria o suficiente. Mas essa distância, essa que por encomenda esquadrilhou as ambições artísticas de um antigo, urbanista ou escultor, essa era como morrer a cada segundo um pouco, tornando insuportável o viver eterno. A toda distância em seus nomes: ambição, metros, anos, saudade, sonhos etc; mas a esse tipo de distância  se chamava proximidade, e há tempo ela vinha assinando seu tratado de crueldade contra os moldados amantes, estatuídos a apenas se olhar.
De todas as distâncias essa parecia a mais dolorosa. Não permitia tocar o objetivo enquanto mantinha próximo, tornando impossível o expediente do esquecimento e transformando-o em aflição. E desse mal sofriam as duas estátuas. Pessoas petrificadas, ou só pedras feitas como gente. Alvos constantes de reformas e apreciação por parte dos mortais que invejavam sua eternidade sem saber o quanto trazia angústia a cada nova restauração que vinha levando embora as esperanças de um fim datado pelos efeitos do tempo.

Dentre a mais cruel das distâncias, pode estar a proximidade.